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Por que muitos jogos cripto estão se encerrando? Especialistas analisam

O mundo dos jogos cripto está enfrentando um momento complicado. Muitas promessas que atraíram um bom número de interessados acabaram se transformando em projetos encerrados ou esquecidos. Especialistas alertam que isso não é exatamente uma surpresa, pois desenvolver um jogo é bastante desafiador. O modelo de tokens, que muitas vezes acompanha essas iniciativas, pressiona ainda mais projetos que estão começando.

É fácil olhar para essa situação e achar que todos já previam o que estava por vir. Mas a realidade é que muitos dos jogos que foram descontinuados tinham um grande potencial. Um exemplo disso é o Deadrop, que tinha o famoso streamer Dr. Disrespect à frente e gerou bastante expectativa até o estúdio fechar as portas, após uma série de problemas. Outro caso curioso é o Nyan Heroes, um jogo de tiro com gatos em robôs gigantes. Ele já contava com uma lista de espera de mais de 250 mil pessoas, mas também foi cancelado por falta de recursos.

Outros títulos, como Raini: The Lords of Light, MetalCore, e Blast Royale, se juntaram à lista de projetos que não chegaram a completar sua jornada. A situação pode parecer desanimadora para quem acompanha esse novo universo dos jogos cripto.

John Linden, cofundador da Mythical Games, expressou bem essa frustração. Ele lembrou que até nos jogos tradicionais, a taxa de sucesso é baixa. “Apenas 10% sobrevivem”, ele comenta. E no universo dos jogos Web3, esse índice vai na mesma linha. O problema é que a falha é muito mais visível, já que, no setor tradicional, os jogadores só veem os fracassos depois do lançamento.

Quando um jogo tradicional não tem um bom desempenho, a indústria costuma reagir. Em casos como o do Cyberpunk 2077, alguns jogadores até conseguiram reembolsos. No entanto, no universo cripto, isso não é bem assim. Muitas vezes, os jogos fazem uma pré-venda de tokens ou NFTs antes de estarem prontos, o que deixa os jogadores em uma situação complicada se o projeto não vai adiante. Com o Deadrop, muitos só conseguiram estornar as compras por meio de seus bancos, dependendo da boa vontade das instituições financeiras.

A situação para conseguir investimento em jogos cripto também está mudando. Keith Kim, da Nexpace, destaca que, há alguns anos, qualquer projeto que oferecia tokens ou NFTs atraía rapidamente a atenção dos investidores. “Era um período em que todos acreditavam sem refletir sobre a sustentabilidade dos projetos”, ele explica.

Leva tempo para fazer um jogo, e requer financiamento

Hoje, o cenário é bem diferente. O entusiasmo diminuiu, principalmente pelos diversos fracassos. A falta de recursos é uma das principais razões para o cancelamento de várias iniciativas. Linden, da Mythical Games, acredita que muitos jogos Web3 focam mais em “hype” do que em fundamentos sólidos.

John Smedley, que tem um histórico expressivo na indústria, também enxerga um problema: muitos desses jogos ignoram o público tradicional e, ao fazer isso, limitam seu alcance. O jogo dele, Reaper Actual, pretende alcançar gamers de ambos os mundos, oferecendo tanto itens como NFTs quanto compras tradicionais por plataformas como Steam.

Alguns sucessos recentes, como Off the Grid, também se adaptaram para serem jogáveis em consoles e plataformas não criptos, ampliando seu público. O detalhe é que esses jogos passaram anos em desenvolvimento, enquanto muitos outros lançaram tokens sem ter um produto jogável pronto.

“Fazer um jogo leva tempo”, reforça Linden. Ele menciona que um amigo, que trabalhou no Grand Theft Auto, está lançando algo novo que começou a ser desenvolvido antes mesmo da Mythical existir. Em contraste, o Deadrop ficou em fase de pré-alfa por quase dois anos e ainda assim não conseguiu se firmar.

Tokens causam pressão nos jogos cripto

A pressão gerada pelos tokens é uma realidade complexa. Krypticrooks, cofundador do estúdio Fractional Uprising, compartilha que o token de seu jogo, OpenSeason, trouxe uma carga enorme. Ele passou a trabalhar até 18 horas por dia, lidando com investidores que pressionavam por resultados em vez de focar no desenvolvimento.

Com o cancelamento do jogo, Krypticrooks e sua equipe decidiram criar algo mais simples, livre dessa pressão. “A comunidade só falava sobre o preço do token, era um pesadelo”, diz ele. Linden concorda em parte, afirmando que em jogos pequenos, os tokens muitas vezes não fazem sentido, pois o interesse dos jogadores é volúvel.

Por outro lado, Krypticrooks acredita que mais tokens serão o futuro, destacando o impacto do Pump.fun, que democratizou a criação de memecoins. Desde seu lançamento, essa plataforma permitiu a criação de milhões de tokens, gerando uma verdadeira febre no mercado.

Essa avalanche de novas moedas tem suas críticas, pois muitos acreditam que pode saturar o setor e gerar confusão. No entanto, a tendência parece resistir. Krypticrooks aponta que essa realidade não só diversificou o mercado, mas também diminuiu a atenção dos investidores. “É como o TikTok das cripto”, ele conclui.

O resultado é preocupante: hoje, nenhum token de jogos figura entre as 100 maiores criptomoedas por valor de mercado. O tempo de atenção do público encolheu, e as consequências dessa dinâmica são uma enorme preocupação para o futuro dos jogos cripto.

Rafael Cockell

Administrador, com pós-graduação em Marketing Digital. Cerca de 4 anos de experiência com redação de conteúdos para web.

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